quinta-feira, 13 de setembro de 2012

"Manuscrito Encontrado em Accra", de Paulo Coelho


Primeiramente, devo pedir desculpas aos leitores deste blog e também ao próprio Mago. Eu havia prometido publicar esta resenha faz mais de um mês, porém só consegui escrevê-la agora. Por vários motivos. Além dos eventos que se multiplicaram no segundo semestre e da proximidade com o início de meu curso anual de estrutura literária, tenho estado bastante focado na produção do meu terceiro romance.

Mas vamos ao livro do Paulo, que é o que realmente nos interessa neste post.

Adaptação – Para começar, é importante dizer que “Manuscrito Encontrado em Accra” é uma adaptação feita pelo autor a partir de peças originais descobertas no ano de 1945, em uma caverna na região do Alto Egito. Diferentemente do que alguns possam pensar, adaptar um texto literário não é o mesmo que traduzir um documento, meramente. É necessário estar sintonizado com suas linhas, o que, na minha opinião, faz de Paulo Coelho um dos mais, se não o mais indicado para esta tarefa em particular. Os temas apresentados estão mais do que de acordo com a sua filosofia, o que pode-se comprovar a partir da leitura de seus tomos anteriores.

INVASÃO DOS CRUZADOS

O prefácio, única parte, creio, que foi tecido originalmente pelo escritor, é curto e mostra a que veio. Serve para nos situar dentro do universo que será apresentado ao longo das demais 173 páginas.


Os acontecimentos apresentados no “Manuscrito” ocorrem todos em um único dia: 14 de julho de 1099, na cidade de Accra, ou Acre, atualmente pertencente ao estado de Israel, na noite anterior à invasão das forças cruzadas francesas durante a Idade Média, um ataque que, ao raiar do sol, vitimaria centenas de moradores, entre militares e civis.

Eixo de convergência – Em Acre então viviam em harmonia cristãos, judeus e muçulmanos, ou seja, era um ponto de reunião pacífica das principais correntes religiosas do mundo ocidental. Dentre esses personagens, surge o protagonista, um erudito grego chamando aqui apenas de Copta. A Grécia era, então, conhecida pela sua tradição de homens e mulheres sábios e letrados, filósofos questionadores, que por não pertencerem oficialmente a nenhuma das três religiões podiam enxergá-las com um olhar mais crítico.

Na véspera da invasão, quando não havia mais esperança, os habitantes de Acre se juntam diante do Copta para debater sobre questões fundamentais “da vida, do universo e de tudo mais”, e quem as responde é justamente o grego, que por ser um estrangeiro tinha o distanciamento e a sagacidade necessários para beber das filosofias judaica, cristã e muçulmana e traduzi-las sem a imposição dos dogmas normalmente apresentados pelos clérigos.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

“Manuscrito Encontrado em Accra” toma a forma, portanto, de um diálogo em que os desesperados moradores da cidade fazem perguntas ao Copta e escutam pacientemente suas respostas. Todas essas respostas são carregadas de conhecimento não necessariamente religioso, mas espiritual.

Enquanto ele falava, certos escribas anônimos anotavam suas frases, e foi assim que o original chegou às nossas mãos.

QUESTÕES FUNDAMENTAIS

Como acontece em muitos outros trabalhos do autor, “Manuscritos” tem a propriedade de comunicar aquelas lições que a gente já sabe, mas que precisam ser repetidas de tempos em tempos. Coisas simples, mas de significado complexo, como o sentido da vida, o mistério da morte, o tabu do sexo, a postura diante da vitória e da derrota e os caminhos para se alcançar a autêntica felicidade.



Pessoalmente, vejo neste novo livro de Paulo Coelho o que tenho observado nas obras anteriores dele, especialmente no “Aleph”, e que considero belíssimo – essa procura pela união dos diversos pontos de vista que aparecem em todas as tradições humanas, provando, ao meu ver, que somos basicamente os mesmos em toda parte.

AMOR E HUMANIDADE

Discorrer sobre cada um dos capítulos de “Manuscrito” seria um exercício inútil, posto que cada um deve tirar as suas próprias conclusões sobre eles. Em vez disso, vou destacar aquele que mais me chamou atenção – é o que fala sobre o amor, assunto recorrente nos escritos do Mago.

O trecho diz o seguinte:

“A vida é curta demais para escondermos em nosso coração palavras importantes. Como, por exemplo, ‘eu te amo’. Mas não espere sempre escutar a mesma frase em troca. Amamos porque precisamos amar. Sem isso a vida perde todo o sentido e o sol deixa de brilhar.”

Como diz uma frase impressa na contra-capa, “Manuscrito Encontrado em Accra” é um convite à reflexão sobre os nossos princípios e nossa humanidade”. Mas eu acho que o grande trunfo desta obra está em seu caráter ecumênico, caráter esse que já era pregado por sábios desde os tempos antigos mas que até hoje é, ainda, ignorado por muitos.

O MAGO FALA

Abaixo, um vídeo promocional de “Manuscrito”, narrado pelo próprio Paulo Coelho.

3 comentários:

Jasmin disse...

Gostei do texto, Eduardo. Realmente, a obra de Paulo vem evoluindo e tornando cada vez mais evidente que, não importa como nomeamos nossos deuses, eles são todos Um. Fiquei com mais vontade ainda de ler Manuscrito. :-)

Rosicler disse...

Esperar para saber a sua opinião sobre este livro de Paulo Coelho, valeu muito!
Parabéns, escritor.

Leandro A. disse...

Bom livro, mas tive a sensação de estar diante de O Profeta, de Kalil Gibran.